Do Caos à coragem: "Eu Nunca" e poder de se reconstruir

Faz exatamente dois anos que nos despedimos de Devi Vishwakumar e de tudo o que "Eu Nunca" nos ensinou. A série chegou ao fim em 8 de junho de 2023, mas ficou cravada no coração de quem acompanhou, episódio após episódio, o caos doce e devastador que é crescer.

“Eu Nunca” começou como uma comédia adolescente sobre uma garota indiana tentando sobreviver ao ensino médio na Califórnia. Mas, desde o primeiro episódio, era óbvio, essa não seria só mais uma série teen. Era sobre dor. Sobre tentar enterrar o luto com provas de matemática, listas de popularidade e paixões mal resolvidas. Era sobre não saber lidar com o que se sente, e, mesmo assim, sentir tudo demais. Era sobre nós.

A cada temporada, crescemos com Devi. Nos irritamos com suas escolhas, nos emocionamos com suas quedas, vibramos com seus acertos. Porque, de alguma forma, víamos nela uma parte de nós mesmos. A parte que quer ser forte, mas se quebra escondido no quarto. A parte que tenta controlar tudo, quando, na verdade, está só tentando não perder o chão. A parte que sonha alto, mas teme o vazio que vem depois da conquista.

O amadurecimento de Devi foi lento, doloroso e real. Ela não se transformou de uma hora para outra, como ninguém se transforma. Ela errou feio, pediu desculpas, duvidou de si mesma, reconstruiu pontes que ela mesma havia queimado. E nos mostrou que crescer é isso, ter coragem de seguir em frente mesmo sem saber se está no caminho certo. É ter humildade para voltar e força para não desistir de novo.

A série também mergulhou em algo que raramente é retratado com tanta sensibilidade em narrativas adolescentes: o luto. A dor de perder o pai, que parecia ter congelado Devi no tempo, foi lentamente se transformando em memória, saudade, e depois... impulso. A lembrança dele não a prendeu. A libertou.

Porque, no fim, "Eu Nunca" era sobre isso, entender a hora de seguir. Saber que algumas dores a gente não supera, mas aprende a carregar. Que alguns amores não são para sempre, mas são fundamentais para nos ensinar a amar. Que crescer dói, mas vale a pena. Que tudo o que somos, até nossas piores versões, faz parte do caminho.

Do primeiro luto à última carta de aceitação na faculdade, "Eu Nunca…" nos levou pela mão e nos mostrou que não há manual para amadurecer. Mas há algo que nunca devemos esquecer: mesmo nos nossos piores momentos, ainda somos dignos de recomeços.

Dois anos depois do fim da série, ainda é difícil dizer adeus. Mas talvez esse seja o ponto. "Eu Nunca" terminou, sim. Mas o que ela nos ensinou? Isso continua com a gente. Em cada escolha que fazemos com mais consciência. Em cada perdão que damos a nós mesmos. Em cada passo que damos em direção a uma vida que, apesar de imperfeita, é nossa.

E, se fosse para dizer uma última coisa para Devi, e para nós mesmos, seria, obrigada por mostrar que é possível recomeçar, mesmo quando tudo parece perdido. Obrigada por nos lembrar que a vida continua, e que nós também podemos continuar, com coragem.




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